A economia mineira desde o período colonial já vinha se diversificando e tal característica permaneceu no decorrer dos oitocentos, onde as atividades agropecuárias e a transformação coexistiram com a mineração. A atividade agropecuária não era antagônica à mineração, eram, aliás, complementares, e, a produção de gêneros alimentícios da região, tinha em um primeiro momento, a função de assegurar a subsistência da população que vivia em torno da mineração. Com a crise da extração aurífera, ocorre uma transição da atividade, antes mineração para um diversificado complexo de produção de alimentos, atividades artesanais, comércio diferente do que afirmava a visão e comércio.
No século XVIII são criadas Comarcas em Minas, devido, a criação da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro, desmembrada do Rio de Janeiro em 1709. Sendo em 1714, criadas as comarcas do Rio das Mortes, Vila Rica e Rio das Velhas. Em 1720, com a Revolta de Vila Rica, D. João V desmembrou a Capitania em duas, a Capitania de Minas Gerais e a Capitania de São Paulo, criando mais uma comarca, a de Serro Frio. As comarcas em Minas marcaram a regionalização de seu território, dividindo a Capitania em regiões com características próprias.
O povoamento da região em que se está estabelecido Guaxupé é anterior ao início do século XIX, partindo de entradas paulistas em busca de regiões auríferas em Minas Gerais, levou algumas famílias a se estabelecerem na área próxima à fazenda Nova Floresta (antiga Fazenda Ribeirão do Peixe), de Paulo Carneiro Bastos, fundador de Guaxupé. Segundo Renato Ferraz, conforme artigo publicado em jornal de Guaxupé em 2007, menciona uma expedição chefiada por Bartolomeu Bueno do Prado, com a missão de combater os quilombos. Em 1759, teria destruído um quilombo dentro do território atual de Guaxupé. O bandeirante contava com cerca de 400 homens, entre eles, o escrivão Manoel Carneiro Bastos, supostamente pai de João Carneiro Bastos, podendo este ser pai de Paulo Carneiro Bastos.
Naquela época era comum, após as destruições dos quilombos, os donos do poder se apossarem da liberdade e do sangue dos negros, mesmo que fossem libertos, de seus achados, de suas mulheres e de suas crianças. Eram feitos pedidos também de sesmarias para a instalação de fazendas de lavoura ou de criação de gado. Bartolomeu, além do posto de capitão-mor nas minas de Jacuí e comandante do distrito de São Pedro de Alcântara, ganhou sesmaria localizada na região do antigo Jacuí.
É muito provável que o escrivão da expedição de Bartolomeu Bueno do Prado, Manoel Carneiro Bastos, tenha recebido posses de terra ou datas, (lotes de terra em regiões de mineração), no que hoje se constituí onde está Guaxupé estabelecido e cujas terras tenham sido legadas a seus descendentes.
O que se tem de concreto é que Paulo Carneiro Bastos e sua esposa Laureana, através de um documento particular doaram uma área de sua fazenda Ribeirão do Peixe para a igreja católica, onde deveria ser construído o arraial de Dores de Guaxupé. Este documento foi registrado no antigo Cartório de Guaxupé, atual Cartório do Registro Civil, livro nº 12 ás folhas 65v.
Conquistada a terra, começou o processo produtivo. Aqui, os entrantes, ocupavam as terras incultas e sua ação se desenvolvia, sobretudo, na derrubada das matas virgens, na construção de suas moradas e na formação de suas pequenas lavouras e pastagens que, aos poucos ampliavam-se nas primeiras fazendas.
Praticavam, no início, uma agricultura modesta de substância, sem outra preocupação, que não a de plantar e produzir para o próprio consumo. Cultivavam a mandioca, o milho, o arroz e o feijão, como produtos básicos de sua alimentação, e em grande escala, a cana de açúcar. Cultivavam também, hortaliças e havia o pomar, onde plantavam o limoeiro, a limeira, a laranjeira e a bananeira.
Além da criação de gado e das plantações, eram desenvolvidas atividades artesanais de produção, destinadas ao auto consumo. Assim, nos ralos de cobre, a mandioca era transformada em farinha, o milho além de ser consumido como alimento, era transformado em farinha de milho, nos monjolos, que pilavam também o arroz e o café, o fubá era produzido na casa do moinho, com jogos de pedra de moer, movido a água ou tração animal. Muito apreciada como matéria-prima, para produzir o açúcar mascavo, o melado e a rapadura, a cana-de-açúcar era trabalhada, nas moendas e nos alambiques de cobre, para a produção da aguardente. Da mamona tiraram o óleo para a iluminação, que era feita através de candeeiros. O algodão, que colhiam, a lã dos carneiros que criavam, eram transformados, nos teares de madeira da casa, em fios e panos para uso doméstico.
Ao lado das lavouras de subsistência, desenvolviam-se atividades de pastoreio, voltadas para a criação de gado, bovino e suíno, principalmente, que forneciam a carne, o couro, a banha, etc.
Os fazendeiros desse tempo tinham imenso orgulho de seus domínios, que eram núcleos econômicos autossuficientes: produziam tudo, para a vida da fazenda; praticamente, só compravam sal, ferro e pólvora e algum artigo de uso pessoal que não podiam faltar. Era dentro das fazendas que se realizava a maior parte da vida dos moradores do sertão.
Em geral, essas fazendas tinham como centro, a casa de morada, as casas dos escravos, o moinho, o monjolo, o paiol, a estrebaria e os currais. Tal quadro sofreu alterações, a partir do momento em que a cultura cafeeira dominou as terras: apareceram na paisagem rural, as fazendas típicas de café.
As primeiras lavouras de café em escala comercial foram implantadas a partir de 1.875, com mão de obra assalariada, com contratos através de escrituras públicas e com cláusulas e condições muito bem definidas, conforme documentos existentes no Cartório do Registro Civil de Guaxupé – Livro de Notas número 3.
O fazendeiro contrata o empreiteiro, fornecendo-lhe moradia e pasto para seus animais. As lavouras foram formadas através de sementes plantadas no local definitivo ou através de mudas arrancadas no mato. Caso fosse por sementes, o fazendeiro as fornecia e se fosse de mato, o empreiteiro deveria arrancá-las e o fazendeiro providenciava o transporte até o local do plantio definitivo. Em muitos casos, o empreiteiro deveria derrubar o mato, proceder a queimada, desencoivarar e abrir as covas para o plantio. No entendimento dos antigos, as lavouras deveriam ser plantadas em terras onde a onça mia e o nhanbu pia, ou seja: em terras férteis e de mato virgem. Normalmente os contratos estabeleciam um prazo de três anos entre o plantio e a entrega da lavoura formada, com valor pré estabelecido e o pagamento em parcelas anuais. Era estabelecida a área a ser cultivada e o espaçamento entre os pés de café e desta forma obtinha-se o número total de cafeeiros. Um detalhe curioso é que na entrega da lavoura deveriam ser contados os pés de café adultos e deduzidos o valor das falhas ou dos pés que não se encontravam totalmente formados. O espaçamento girava em torno de 13 palmos quadrados entre os pés de café. Respeitada uma distância de 04 palmos, o empreiteiro poderia plantar milho ou feijão, colhendo para si os cereais. Nos dois primeiros anos, as mudas deveriam ser protegidas do sol, através de coberturas de madeira, que deveria ser retirada gradativamente.
A grande maioria dos contratos estabelecia que caso houvesse um desastre por força maior, como geadas ou chuvas de granizos no primeiro ano, o fazendeiro pagaria o trabalho realizado pelo empreiteiro, na devida proporção e o valor seria estabelecido por dois árbitros, um por parte do fazendeiro e o outro por parte do empreiteiro.
Os precursores da implantação das lavouras de café no município de Guaxupé, como forma de agronegócio, foram os irmãos Antônio e Joaquim da Costa Monteiro, nas fazendas Três Barras e Santa Maria respectivamente, e assim deram início ao processo de desencadeamento de progresso e desenvolvimento do município, juntamente com membros da Família Jatubá, representada por Francisco Jatubá, Joaquim Francisco Jatubá e Martinho Ferreira Jatubá, Conde Ribeiro do Valle, Antônio Norberto Ribeiro do Valle, Urbano Leite Ribeiro, entre outros abastados fazendeiros que aqui se estabeleceram no decorrer da segunda metade do século XIX, e foram os responsáveis pela primeira fase de crescimento econômico de Guaxupé.
Baseado em pesquisas realizadas no antigo Cartório de Guaxupé, atual Cartório do Registro Civil de Guaxupé, pelo memorialista Wilson Ferraz, em publicação em jornal da cidade (11.06.2005), verificou-se que a fazenda Santa Maria, Fazenda dos Pereiras dentre outras, faziam parte da antiga Sesmaria do Balsamo, nos idos dos oitocentos.
Guaxupé, quando estava passando pela primeira fase de desenvolvimento, necessitava de tecnologia, mesmo sendo da época, para crescer e se transformar na progressista cidade que é hoje. Foi o capital financeiro das primeiras famílias que aqui se estabeleceram que patrocinou esta fase de desenvolvimento. Podemos destacar a fazenda Santa Maria de Joaquim Costa Monteiro, como polo de desenvolvimento. Nesta propriedade foi instalado o primeiro secador de café, foi a primeira a possuir despolpador e máquina de beneficiar café, movida a vapor, ainda na década de 1890. Também foi nesta fazenda que foi instalado o primeiro telefone da localidade. Por volta de 1900, todas as fazendas de Joaquim Costa Monteiro possuíam telefone para se comunicarem entre si. Desenvolveu um sistema de geração de energia elétrica movida a água, dentre tantas outras inovações tecnológicas para a época. Para plantar e cultivar os quase 670.000 pés de café e cultivar os 1.184 alqueires de terra, Joaquim Costa Monteiro utilizava principalmente a mão de obra dos imigrantes italianos. Para dar assistência aos numerosos colonos italianos, instalou armazém de gêneros alimentícios, vestuário e gêneros de primeira necessidade, bem como farmácia, serviço ambulatorial, odontológico e recreação, uma iniciativa vanguardista para o final dos anos oitocentos. Joaquim Costa Monteiro, foi um dos companheiros do Conde Ribeiro do Valle na luta por trazer os trilhos da Companhia Mogiana até Guaxupé, sonho esse realizado em 15 de maio de 1904, fato que iremos tratar com mais afinco no próximo capítulo.
Podemos afirmar com convicção que a fazenda Santa Maria tornou-se a mais adiantada e progressista no final dos anos oitocentos, início dos anos novecentos e boa parte do século XX, quando na década de 1960 as extensas terras da fazenda Santa Maria, entre outras do mesmo fazendeiro, foram divididas entre os herdeiros ou vendidas.
Hoje em dia a fazenda Santa Maria, não desenvolve nenhuma atividade agrícola, a casa sede, símbolo da prosperidade de uma época, tornou-se patrimônio histórico e serve de residência para uma das bisnetas do Coronel Joaquim Costa Monteiro, falecido em 1902.
Assim a história da cafeicultura em Guaxupé, assim como na maioria dos municípios Sul de Minas, é marcada por sucessivas ações pioneiras daqueles que se aventuraram desbravando o sertão e semeando cidades.